"Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre." Clarice Lispector
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Fantasmas da madrugada
Era tarde, caminhava pela calçada a passos largos,
olhava para trás o tempo todo, para ter certeza que não estava sendo seguida.
Tinha medo de ser surpreendida por algum estranho,
já ouvira falar de ataques por aqueles lados.
Apesar disso, por mais rápido que andasse,
O destino parecia ficar cada vez mais longe.
Chegando na esquina de um cruzamento,
olhou para os dois lados, ia atravessar a rua,
mas de repente, um carro saido sabe-se lá de onde,
cruzou o caminho levando consigo,
o pouco do ar que ainda lhe restava nos pulmões.
Tinha a impressão de ter parado de respirar por alguns segundos...
foi apenas um susto.
Afinal, naquela rua não se via uma alma viva… fazia tempo.
Olhou no relógio e se deu conta que já passava das três da manhã,
apertou o passo, queria chegar logo em casa.
Faltando pouco mais de um quilômetro para terminar, aquela que parecia,
uma maratona e não uma simples caminhada,
colocou a mão na bolsa a procura da chave de casa.
Não queria perder tempo para abrir a porta,
afinal, a rua estava deserta.
Procurou infinitamente,
vasculhando todos os bolsos e ziperes existentes em sua bolsa,
numa ânsia desesperada…nada encontrou.
Apenas um minuto se passara, entre a procura da chave e a lembrança do
barzinho, onde há algumas horas bebia com amigos.
Sabia que tinha estado no toalette e aberto a bolsa para retocar o batom.
Podia a chave ter caído ao chão sem que ela percebesse?
Esse era o seu medo e seu pesadelo.
Desistiu de procurar,
tinha que voltar ao barzinho,
refazer todo o trajeto,
mergulhar na escuridão e no silêncio da madrugada...
exorcizando seus fantasmas.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Arrumando
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Vazio
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Segredos da vida
Definitivamente não era dessa época, tinha o pensamento avançado, ideias revolucionárias,
quem não a conhecia dava-lhe pouco mais de vinte anos.
Gostava de falar de música, poesia, cinema e artes em geral.
Vivia rodeada de pessoas, que lhe pediam informações e conselhos, próprio de pessoas experientes, que já vivenciaram momentos importantes da história.
Às vezes matuta, às vezes ingênua, se fazia de desentendida, só para fugir das provocações.
Sua existência foi marcada por bons e maus momentos, uma epopeia de acontecimentos,
nada que ela não soubesse como enfrentar...era esperta,
forte, destemida, muito à frente de sua época.
Mas como tudo nessa vida é passageiro, o destino achou por bem frear o tempo, diminuir o ritmo.
Passou seus últimos dias absorvendo cada minuto, em contagem regressiva.
Até que no último segundo, prestes a completar seus 90 anos, despediu-se sorrindo, fechou os olhos e partiu, corajosamente como sempre viveu.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Retratos
Olhos me fitam,
As expressões são variadas
Olhos caídos e tristes
bocas abertas e sorrisos largos
sobrancelhas arqueadas num sinal de espanto
lábios retorcidos de descontentamento
cada qual expressando emoções vividas em épocas diferentes
Continuo folheando o álbum
virando as páginas com cuidado
para que nenhuma expressão se perca
no tempo, no espaço e na lembrança
Fecho os olhos, uma lágrima desce silenciosa sobre minha face
Lavando minha alma e meu coração
da saudade daqueles que já se foram.
E o tempo...passa
O tempo passa e não passa...
O tilintar do relógio marca as horas, minutos e segundos dessa existência
Vejo o alçapão abrir, dentro dele milhares de indagações
Me pergunto: Terei tempo suficiente de respondê-las ou ficarão perdidas no espaço, sem respostas?
Resolvo fechar todas as portas, na esperança que elas sumam, desapareçam, evaporem.
Não tenho mais tempo, vou embora tentar sobreviver a esse turbilhão de emoções, perguntas, respostas e indagações
Vou viver a vida.
sexta-feira, 18 de março de 2011
Nego
Nego-me terminantemente
A sair dessa redoma
Dessa bolha transparente
Que veda a minha alma
Do que vem pela frente.
Nego-me terminantemente
A não ter mais segurança
A sentir desesperança
A viver na mendicância
Por um pouco de esperança.
Nego-me terminantemente
A romper com os meus medos
A contar os seus segredos
A falar dos meus desejos
A olhar-me no espelho.
Nego-me.
sexta-feira, 11 de março de 2011
Voo
Vai... bate as asas...
Sai desse casulo eterno
Se liberta desse redemoinho
Estranho e minúsculo
Olha para o infinito, ele é seu limite.
Não se prenda ao medo e a tristeza
Quebra as correntes que te aprisionam
Sê livre, voa como uma borboleta
Sem destino certo
Que vê o mundo com suas lentes de aumento.
Pinta a tela da vida
Com todas as cores do arco-íris
Com todas as rosas do jardim
Com todos os sons do universo
Para que a tua existência
Não passe despercebida.
Outrora
Sabe aquele aperto que a gente sente no peito
Sem saber o porquê e nem o motivo
Pois é...isso se chama saudade.
Foi assim que acordei hoje, me sentindo estranha, saudosista e
lembrando situações que vivi
durante a minha vida.
Recordei uma vez, que quando criança,
passeava de bicicleta pela rua onde morava,
com uma saia de ráfia na cabeça imitando cabelos longos,
coisa que na época sonhava em ter.
Lembrei também que costumava brincar de queimada com meus vizinhos,
Com aquela bola feita de tecido pela minha mãe,
era pura diversão...risos.
Do dia em que ganhei minha primeira bicicleta Caloi,
que por triste coincidência, foi também o dia que perdi meu cachorrinho John, atropelado por um ônibus.
Da hora do papai chegar do trabalho, trazendo na bolsa lanches, que para nós, eram verdadeiros banquetes,
Das conversas com amigos em frente de casa, falando trivialidades,
fazendo planos para o futuro e se sentindo os donos do mundo,
Ah! Quanta saudade desse tempo,
onde não havia preocupações e a vida era bem mais simples.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Destino
Ela andava triste, desiludida e achando que nunca encontraria o amor de sua vida. Mas como o destino prega peças na vida da gente, aquele era o dia predestinado dela. Acordou cedo, pegou o ônibus e foi trabalhar. Tinha uma reunião às oito e meia e não podia chegar atrasada. No caminho aconteceu algo inusitado, pela janela do ônibus ao passar em frente ao ponto na Rua 25, eis que algo lhe chamou à atenção. Um rapaz com um chapéu tipo panamá lia um livro tão compenetrado, que parecia até estar devorando as páginas. Ele a fazia lembrar o personagem de um filme antigo. Ela como boa amante da literatura ficou a imaginar sobre o que se tratava o livro.
A curiosidade, porém durou poucos segundos, logo o semáforo abriu e o ônibus seguiu viagem. Engraçado é que a imagem daquele rapaz não lhe saia da cabeça. Ao chegar no escritório foi andando pelo corredor e imaginando que se algum dia tornaria a vê-lo.
Qual não foi a sua surpresa, quando ao chegar à sala de reunião se deparou com o rapaz. Ele era um dos convidados para a reunião. Ela cumprimentou a todos e quando chegou a vez do rapaz, olhando-o nos olhos ela disse:
-Eu sou Mariana, muito prazer.
-O prazer é meu, eu sou Luiz, o arquiteto responsável pela obra.
Durante a reunião os olhares não paravam de se cruzar, às vezes o incômodo era tanto, que ela não sabia o que fazer, as mãos transpiravam, o coração batia acelerado, era uma sensação gostosa e ao mesmo tempo estranha.
A copeira entrou na sala para servir o café, ele mais que depressa pegou um cartão escreveu algo e pediu que a moça o entregasse a Mariana, que estava sentada do outro lado da mesa. Ela ao receber o cartão ficou desconcertada, mas o colocou na bolsa e fingiu que nada havia acontecido.
No final da reunião, quando todos já haviam saído da sala, ela tomou coragem e leu o cartão. Nele estava escrito: “Mariana, sou seu vizinho há três anos e desde que te vi pela primeira vez, me apaixonei. Sei que nunca nos encontramos e não tivemos a oportunidade de nos conhecermos, já tinha perdido a esperança de me aproximar de você. Hoje, nessa reunião, tomei coragem de declarar o que sinto, espero que compreenda e que me dê uma chance. Esperarei ansioso pelo seu telefonema. Com amor, Luiz”.
Engraçado como a felicidade às vezes está tão próxima a nós e não a enxergamos. Pense nisso!
Amor Eterno
Já te conhecia mesmo antes de te ver
Sonhava com seu rosto, a cor dos seus olhos,
Da sua pele e o frescor de teus lábios.
Amava-te antes mesmo de sentir o seu braço no abraço
O aconchego do teu peito, o calor dos seus afagos
Como uma criança debruçada no colo da mãe.
Amo-te agora mais e melhor
Pois te conheço, já não és mais um estranho para mim
Perto de ti, sinto como se não existisse mais ninguém
Só eu e você...
Nesse universo de sentimentos e emoções
Amar-te-ei pra sempre
Sempre mais e melhor... meu amor.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
A janela
Ele passava lá todos os dias, no mesmo horário. Ela, pela brecha da janela olhava aquele belo rapaz, vestido com uniforme, levando uma mochila nas costas. Sabia a hora certa, o coração avisava. Ficava batendo num ritmo acelerado, parecia que ia ter um ataque cardíaco.
Um dia ela tomou coragem e abriu a janela. Ele passou, dessa vez acompanhado.
Eu
O tempo
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Lembranças guardadas
Do papel velho, amassado e já sem cor
Da letra borrada, como um carimbo já desgastado
Cartas, bilhetes, fotos, postais e até pétalas de rosas ressecadas pelo tempo
Jaziam dentro daquela tumba.
Mas as lembranças... Ah! Essas permaneciam ali
Intactas, impenetráveis
Adormecidas, anestesiadas, esquecidas
Hibernadas pelo esquecimento.
Esperando a hora de emergir
Das profundezas de uma caixa vazia
Que guardava apenas memórias
De anos, meses, semanas, dias, minutos e segundos
Que não retornariam mais.
Desgraça pouca é bobagem
Saiu de casa apressada, já estava atrasada para o trabalho e corria pela sala em direção à porta calçando o sapato.
Ao fechar a porta de casa, reparou que tinha deixado a chave do lado de dentro, mas como estava atrasada deixou para resolver este problema mais tarde.
Coitada! Ma sabia ela, que o dia estava apenas começando...
Entrou na garagem, pegou o carro e saiu pelas ruas dirigindo como se fosse “tirar o pai da forca”, estava atrasada.
Bastaram poucos quilômetros e o carro começou a enguiçar, dava uns trancos, mas de repente parou. Ela olhou para o medidor de combustível, e viu o que não queria enxergar, o combustível simplesmente tinha acabado.
Procurando se controlar, permanecer calma e não sucumbir a um acesso de fúria, ela decidiu pegar o celular e ligar para o noivo. Sem sucesso! Nessas horas parece que ninguém está disponível e nada funciona.
Como ele não atendia a ligação, ela decidiu parar o carro no acostamento e procurar ajuda no posto mais próximo. Talvez, com muita sorte haveria uma ali pertinho para comprar combustível. Só o que ela não imaginava, é que o posto mais próximo ficava a pelo menos três quilômetros de distância.
Toda arrumada, com seu tailleur da PRADA, ela caminhou por alguns minutos recitando internamente um mantra, tentando se convencer que tudo daria certo e que conseguiria chegar a tempo na reunião de trabalho marcada para as 9 horas.
Quando avistou o posto, depois de já ter caminhado por quase uma hora, suando em bicas e com os cabelos desarrumados, tentando esboçar um sorriso de contentamento e achando que seus problemas estavam solucionados.
Eis que surge um buraco no caminho, a pobre que já estava pra lá de Marrakesh se estatelou no chão, ao tentar se levantar viu que o salto de seu sapato AREZZO estava quebrado. Era o fim, pensou ela.
Levantou-se rápido, sacudiu a poeira de seu ‘conjuntinho’, arrancou os sapatos e os jogou longe. Depois saiu correndo em direção ao posto e chegando lá implorou ao frentista que lhe vende-se o mais rápido possível um galão de combustível.
Agora, já com a gasolina em mãos, fez o caminho de volta, a distância já não parecia tão grande, porém, cansada e à beira de um ataque de nervos, só pensava em chegar logo ao automóvel.
Resolvido o problema com o combustível, tentou seguir viagem, rezando para que nada mais catastrófico acontecesse. Depois de alguns minutos, conseguiu enfim, chegar ao destino. Ao entrar no prédio da empresa, olhou o relógio e percebeu que ainda lhe restava dez minutos, o suficiente para chegar até a sala de reunião.
Tomou o elevador e tentando melhorar o visual, segurava em uma das mãos um espelho e na outra uma escova, na tentativa de ajeitar os cabelos e secar o suor que lhe escorria pelo rosto e pelas costas. Ao mesmo tempo, que ligava para a amiga da sala ao lado, pedindo um par de sapatos emprestado.
Faltando dois andares para chegar ao escritório, já aliviada e mais tranquila, respirou fundo e pensou que tudo iria dar certo. Afinal, nada mais podia dar errado.
Bastaram alguns segundos de paz e, de repente, as luzes se apagaram. Pronto! Ela pensou, vou ficar trancada nesse elevador, sozinha e sabe Deus quando sairei daqui.
Era o fim! Estava presa num elevador, sem sapatos, descabelada e atrasada. Mas, para sua sorte, se assim se pode chamar, o elevador voltou a funcionar e ela conseguiu chegar ao seu destino, o escritório.
Mas que depressa correu em direção a sala de reunião abriu a porta num rompante e para sua surpresa, a sala estava vazia, não tinha nenhum sinal que ali haveria uma reunião de trabalho.
Ela atônita se dirigiu a amiga de sala e perguntou: Onde estão todas as pessoas que vão participar da reunião? A amiga respondeu: Mas que reunião? A que está marcada para amanhã, às 9 horas, para a apresentação do seu projeto aos clientes?
Ela não acreditava no que estava ouvindo, as palavras da amiga chegavam aos seus ouvidos, como o som de um disco tocado em baixa rotação. Não, eu não posso acreditar, depois de tudo que passei hoje.
Sem compreender ao certo o que tinha acontecido, resolveu voltar para casa. No meio do caminho a lembrança da porta trancada com as chaves pelo lado de dentro veio a sua mente. Ah! Isso agora era apenas um simples detalhe, afinal, desgraça pouca é bobagem.
*Esta história foi baseada em um e-mail que recebi de Evelin Agria...lembra? AREZZO.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Cry
Vestes
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Despertar
Era apenas uma criança, como tantas outras. Gostava de brincar com os amigos, de pique-esconde, bicicleta, futebol e queimada. Sempre acordava cedo, mal sentava-se à mesa para o café e já saia correndo em direção a rua para encontrar os coleguinhas.
Brincavam a tarde toda e no final do dia, já exauridos de um dia de estripolias, voltavam para suas casas.
Vida de criança! sem preocupações e responsabilidades. Ainda mais porque estavam de férias e só pensavam em curtir e se divertir. Certa manhã, o ritual para um deles parecia ser o mesmo: acordou, tomou café e saiu. Contudo, ao chegar na rua onde brincava com os amigos percebeu que o local estava diferente, mudado. Os paralelepípedos agora davam lugar a um asfalto novo e recém colocado, os postes eram diferentes e as luzes pareciam maiores, o bar da esquina onde costuma comprar doces, agora, se transformara em uma lan house.
Era estranho para ele olhar o lugar onde passou boa parte de sua infância e não reconhecê-lo mais. Com tristeza e sem compreender bem o que havia acontecido, voltou para casa e perguntou a mãe o que tinha acontecido. Por que as coisas tinham mudado. A mãe, sem saber ao certo, qual seria a reação dele, o abraçou com ternura, sentou ao seu lado no sofá e num tom acolhedor explicou:
- Meu filho, há muito tempo atrás você sofreu um acidente e ficou em coma por muito anos. Os seus amigos de infância, cresceram e agora são adultos, cada um tomou um rumo na vida. Atônito e sem conseguir assimilar direito todas as palavras da mãe. Ele entrou no quarto, sentou-se por alguns minutos e depois de refeito da notícia, tomou coragem de se olhar no espelho. A imagem daquele homem já adulto, o fez por alguns instantes relembrar o passado, das brincadeiras e dos amigos de infância. Nesse momento ele se deu conta, que não poderia desperdiçar nem um segundo da nova chance que lhe fora dada. Chegara a hora de viver!
Ei! você
Voz
Grito...
Porque não posso mudar o que está errado,
Grito por me sentir impotente diante de tantas barbáries,
Grito de indignação pelos desmandos dos opressores,
Grito por não conseguir me calar em frente a tantas tragédias,
Grito querendo que minha voz ecoe além das paredes e muros,
Grito alto mesmo sabendo que o som é abafado pelas injustiças,
O meu grito é interno, de revolta, de indignação e de medo.
Medo de que está situação perdure.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Manhã
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Laços
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
O fim...
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Simplicidade
A palavra certa na hora do desespero;
A mão estendida para ajudar a levantar;
O ombro amigo para abrigar o choro;
O aperto de mão transmitindo fortaleza;
O olhar de gratidão;
O abraço de um amigo;
O colo da mãe;
O afago do pai;
O beijo do amado(a);
A presença da filha(o);
A companhia do animal de estimação;
O vento no cabelo;
O cheiro de pipoca doce;
O gosto do sorvete de flocos...
Coisas que me fazem feliz!
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Mudanças
Fico pensando...
Porque as pessoas mudam?
Mudam a cor do cabelo, de casa, o estilo de vestir, de agir, de falar e até de pensar.
Mudam com o tempo, com o sofrimento, com as alegrias e até com as vitórias.
Mudam o jeito de pentear os cabelos, a cor do esmalte, a cor do jeans e até o tamanho da saia.
Mudam de emprego, de escrita, e até os trejeitos.
Mudam o olhar, o sentimento, e até o tom da voz.
Mudam de dentro pra fora e de fora pra dentro.
Talvez porque viver é uma constante mudança.
Sem lembranças...
Parecia ter nascido assim, amargo por dentro e por fora. Não era porque tinha nascido pobre e sem nenhuma oportunidade na vida. Era mais que isso, mais profundo, estava na mente, no coração e nas entranhas.
Mesmo assim ele conseguiu estudar, se formar e trabalhar num escritório de contabilidade, era contador e dos bons. Não tinha amigos e não fazia questão de tê-los. Apenas desempenhava suas funções e era só.
Todo dia acordava de cara amarrada, de mau humor, como se tivesse uma nuvem negra em cima de sua cabeça. Mal sentava para tomar café, pegava sua mala e saia pela porta como se fosse aquele o último dia de sua vida.
Andava pelas ruas sem notar e sem ser notado. Atravessava as avenidas sem se importar com os carros que vinham em sua direção. Parecia estar além do bem e do mal, da vida e da morte.
Quando encontrava alguém conhecido, não se dava ao trabalho de ser gentil ou simpático. Olhava para a pessoa como se não a enxergasse. Vivia assim, alheio a tudo e a todos.
Mas como diz o ditado: “Um dia é da caça e outro do caçador”. Numa manhã acordou sentindo-se diferente, fora do prumo. Fez o mesmo ritual de todos os dias e saiu apressado.
Nesse dia algo aconteceu, andando pela calçada ele sentiu um mal estar profundo, como se uma faca lhe fora fincada no peito. Parou, olhou à sua volta, e por um breve momento conseguiu fitar as pessoas que freneticamente se moviam de um lado para outro.
Era algo inusitado e até assustador para um homem como ele, que fazia questão de viver sozinho, sem amigos, sem história, sem amor. Tão assustador que por alguns momentos o fizeram enxergar as pessoas e o movimento da Cidade, coisa que nunca tinha feito antes. Foram segundos sentindo aquele gosto na boca, amargo e repugnante. Gosto de quem nunca provou algo doce, como um abraço, um bate-papo, um chopp com amigos no final da tarde.
Aos poucos as forças foram se esvaindo, as pernas não conseguiam agüentar o peso do corpo, ele foi caindo em câmera lenta e nesse instante a sua vida pobre, sem aventura, sem amor e sem emoções foi passando como um filme em sua cabeça. Na memória, simplesmente nada.
Caído ao chão foi sentindo a respiração ficar mais lenta, o ar já não chegava a seus pulmões, ele sentiu que pouco tempo de vida lhe restara e por alguns minutos sentiu medo.
Medo da solidão, de não ter uma mão para segurar nesse momento tão difícil. Foi ai que olhou à sua volta e viu que do mesmo modo que ele não se importara com as pessoas a sua vida inteira, assim também, elas não se importavam com ele caído ao chão, tendo a sua vida por um fio.
Foi nesse instante que se deu conta do vazio que foi a sua existência. E, na sua mente a pergunta não queria calar: Quem se lembraria dele? A resposta era óbvia, restaria apenas uma mesa vazia, num escritório de contabilidade, sem retratos, sem história e sem memórias.
Contudo já era tarde, ele não podia fazer mais nada e a essa altura também não o queria fazer. Se resignou a morrer ali, sozinho, sem lembranças e sem ser lembrado por ninguém.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Tristeza
O passo mantinha o ritmo,
descia as escadas num único compasso,
cada degrau, a sensação de estar mais longe.
De repente o passo ficou mais lento,
o ritmo mais espassado.
Já não era possível ouvir o barulho dos passos na escada.
Corri para ver o que tinha acontecido.
A minha frente o som da porta batendo.
Ela simplesmente desapareceu.
A tristeza, enfim, foi embora.
Gente
Inquietude
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