Ah! Como adorava o vestido vermelho. Com suas flores brancas e gola engomada. Quando o vestia se sentia uma princesa. Mamãe dizia que era para usar em ocasiões especiais. Mas se fosse por ela, viveria vestida com ele. Contava os dias para usá-lo e mostrá-lo a todo mundo. Afinal, queria mesmo é exibi-lo, desfilar nas ruas do bairro e escutar os elogios.
Sabia que ia passar calor, afinal, o verão estava a todo vapor. Mas isso não a preocupava, afinal de contas, era para fazer inveja as meninas do bairro. Chegou o grande dia, era domingo, dia de missa. A ansiedade estava à flor da pele. Colocou o vestido, sua mãe fez as tranças em seu cabelo longo e volumoso e mais do que depressa, a menina correu para se olhar no espelho. Por alguns segundos ficou parada, estática, não acreditava no que estava vendo. Como era lindo, como estava linda dentro dele.
Foram caminhando até a igreja, seu pai ia à frente. Ela, sua mãe e suas irmãs logo atrás. A igreja ficava apenas duas quadras de sua casa. No trajeto, podiam-se ouvir os elogios das pessoas que a encontravam pelo caminho. Uns diziam: Mas que vestido mais bonito! Essa menina parece uma princesa! E era bem assim... quem o via, não deixava de elogiá-lo.
Na igreja fez questão de sentar-se na primeira fileira, queria que todos a vissem com o belo traje. Lá estava ela, sendo o centro das atenções, toda orgulhosa e faceira. Ao término da missa, foi correndo para a sacristia pedir a benção ao padre e esperar por um elogio do sacerdote. Saiu de lá toda satisfeita com os elogios que recebeu.
Chegando em casa, tirou o vestido e deixou-o em cima da cama. Colocou uma roupa para brincar e antes de sair do quarto, deu mais uma olhadinha nele, correu para o quintal e foi se divertir com os primos. Era domingo, a família tinha o hábito de se reunir para o almoço depois da missa. As crianças ficaram brincando no quintal a manhã toda. A essa altura, o vestido vermelho já não era mais novidade, tornou-se apenas, mais uma peça em seu guarda-roupa.