Era uma tarde linda de verão. Olhava pela janela do 14º andar do edifício onde trabalhava por mais de 25 anos. Parei um instante para refletir como consegui chegar até ali. Dificuldades, obstáculos enfrentei pelo caminho, mas não desisti.
Diante daquela janela, parecia que um filme passava diante de meus olhos.
Lembrei da minha infância sofrida e das privações, que não foram poucas. Mas, apesar de tudo, também teve muito amor e esperança.
Ainda menino me lembro de correr descalço pelas ruas esburacadas e barrentas, com uma pipa colorida na mão, que acabara de fazer escondido de minha mãe. Ela não gostava de me ver brincando na rua.
Na adolescência, com a rebeldia inerente à idade, saia de casa para passear sem ter hora para voltar. Isso, deixava meus pais preocupados, velando pelo meu retorno com segurança. Pedindo à Deus que nada de mau me acontecesse.
Adulto, já formado e trabalhando no escritório, passava os dias trancado numa sala em meio a telefonemas e e-mails. Não reparei como o tempo passou tão rápido, só me dei conta quanto um certo dia me olhei no espelho e percebi que meus cabelos já estavam praticamente brancos.
Durante todo esse tempo vivi sem ter medo de me arrepender, só queria crescer profissionalmente, ter um bom emprego, uma boa casa, um bom carro.
Agora, olhando para o horizonte, em pé em frente essa janela, me dei conta que despertei de um sonho e fechei a caixa das lembranças e saudades.
A realidade era que já tinha mais de 80 anos e a janela pela qual olhava o mundo, era do hospital em que passei os últimos meses de minha vida.